O INDESEJÁVEL CICLO VICIOSO

13 de fevereiro de 2017 0 Por Sidney Lucas

Já parou para pensar como as repetições em nosso cotidiano nos transforma em elementos quase robotizados? Parece viciar nossa consciência naquela rotina de pensamento que aos poucos vai deixando evidente que quanto mais se repete algo menos se precisa pensar para realizá-las. Muitas das vezes trabalhamos, dirigimos, falamos ou comemos de forma “automática” nos levando a não sentir o prazer que existe no que fazemos no dia-a-dia. Este ciclo vicioso se torna autônomo a ponto de nos tirar o desejo de experimentar algo novo ou rever a forma como realizamos nossas tarefas.

Uma grande parcela dos consumidores de vinhos tem por característica adotar uma cartilha e nunca ou raramente se arrisca a experimentar algo diferente, quando acontece, a maior aventura é sair do Chile e comprar um australiano (o que já é uma mudança!). O problema é quando se está tão “viciado” na rotina de beber sempre os mesmos até que estes se tornem a referência máxima para julgamento dos demais.

O grande barato do vinho é exatamente este gigantesco mosaico de possibilidades que ele permite. A frustração por ter errado na escolha faz parte e torna o ato de beber vinhos ainda mais emocional! Afinal, não se joga um vinho na pia com a ausência de sentimento que se faz com a cerveja.

Se por um acaso você está habituado a não se arriscar na compra de uma garrafa que tenha sido produzido em um país com pouca tradição ou se evita algum vinho por conhecer pouco acerca do local de onde ele venha é certo que estará evitando surpresas desagradáveis, mas também não terá as boas.

Somente no Leste Europeu existem muitos países que produzem verdadeiras maravilhas, portanto, o costume de apenas consumir italianos, franceses, espanhóis… impede que estes tesouros sejam explorados.

Países como Áustria, Eslovênia, Grécia, Hungria e muitos outros são os últimos a virem à mente quando se pensa em vinhos mesmo tendo um histórico vitivinícola de quase três mil anos de tradição. A Croácia, por exemplo, cujas primeiras videiras foram plantadas pelos Fenícios, já exerceu importante papel no cenário do vinho europeu com suas maravilhosas uvas autóctones Plavac Mali e Dobricic (tintas) além da Posip (branca). No caso de Eslovênia, os Celtas já produziam vinhos ali antes dos romanos, tem a região de Primorska como a mais prestigiada do país pela elevada qualidade dos vinhos produzidos, brancos estupendos predominam sem ofuscar os elegantes e profundos tintos. Já na Áustria existe um emaranhado de uvas, vão desde as emblemáticas locais às mais badaladas internacionais como Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon… sua maior estrela é a branca Grüner Veltliner, outras nativas de destaque são Zweigelt e Welschriesling. Fonte quase inacabável de estilos, tipos e sabores graças as muitas variedades de castas existentes no país. Os Húngaros começaram a produzir vinhos com Botrytis duzentos anos antes dos franceses e cem anos antes dos alemães. Se não bastasse, fazem também tintos únicos.

Te convido a começar uma viagem por locais pouco comuns, varie, mude, volte ao mesmo, varie novamente, garimpe, decepcione-se, surpreenda-se… faz parte!