Orange Wine Quest – II

9 de junho de 2014 0 Por GUILHERME CORRÊA

Prima tappa da nossa viagem, para se assegurar da excelência da mesa italiana, uma trattoria imperdível a exatos 5 quilômetros do aeroporto Marco Polo de Veneza: a Trattoria al Passo em Campalto. O proprietário Massimo, persuasivo lobo-do-mar, é taxativo já em sua primeira abordagem: “na nossa cozinha temos apenas uma regra: colocaremos nos seus pratos apenas peixes dos nossos mares e lagoas”. Pouco depois começa um show de sabores puros e intensos do mar, harmonizados por uma seleção impecável de rótulos orgânicos, naturais e biodinâmicos. I crudi, como são orgulhosamente batizados os crustáceos, moluscos e peixes sem qualquer cozimento, humilham a nossa noção de frescor: “os peixes têm 24 vidas, e a cada hora fora do mar eles perdem uma”. A trattoria, sempre lotada de foodies, locais e mesas de negócios, parece estar à deriva com sua decoração ostensiva em motivos marinhos: bússolas, faróis, redes, um gigantesco aquário marinho e as varas profissionais do Massimo dependuradas em todas os espaços livres onde caberiam as tradicionais panelinhas de cobre. A nossa escolha recaiu sobre uma espetacular Ribolla Gialla de Damijan http://www.damijanpodversic.com/, com sua costumeira mineralidade, transparência ao terroir e aos pratos que acompanha, para dignificar a nossa primeira refeição da inesquecível jornada ao encontro dos vinhos laranjas.

Um grande barco à deriva num mar de sabores autênticos, de imaculado frescor

Um grande barco à deriva num mar de sabores autênticos, de imaculado frescor

As varas de Massimo desfalcam constantemente a decoração da trattoria, para a nossa felicidade!

As varas de Massimo desfalcam constantemente a decoração da trattoria, para a nossa felicidade!

"Crudo di gamberi", sua plástica perfeita, textura sumarenta e crocante, e sua doçura de sabor me fizeram esquecer a compaixão ao devorá-los!

“Crudo di gamberi”, sua plástica perfeita, textura sumarenta e crocante, e sua doçura de sabor me fizeram esquecer a compaixão ao devorá-los!

O atum é uma covardia. Da costa da Sardenha, deve sua textura e sabor também pela forma como é eviscerado e sangrado, segundo Massimo

O atum é uma covardia. Da costa da Sardenha, deve sua textura e sabor também pela forma como é eviscerado e sangrado, segundo Massimo

Um clamor de sabores neste atum “spadellato” com manteiga, alecrim, amêndoas e pistaches! Textura de um kobe beef!!!

Acho desnecessário dizer qualquer coisa sobre estes "canestrelli" do dia abertos na grelha...

Acho desnecessário dizer qualquer coisa sobre estes “canestrelli” do dia abertos na grelha…

"Le moeche fritte" como denominam localmente o siri-mole frito em imersão no azeite, além de alevinos que evaporam na boca, deixando um sopro de maresia...

“Le moeche fritte” como denominam localmente o siri-mole frito em imersão no azeite, além de alevinos que evaporavam na boca, deixando um sopro de maresia no retro-gosto

Não adianta, um clássico "spaghetti con le vongole" é para mim o melhor prato de pasta que existe! Mas no Al Passo as vongoles são as "verace della Laguna di Venezia", uma raridade, pois as filipinas dominam os mares italianos atualmente

Não adianta, um clássico “spaghetti con le vongole” é para mim o melhor prato de pasta que existe! Mas no Al Passo as vongoles são as “verace della Laguna di Venezia”, uma raridade, pois as filipinas dominam os mares italianos atualmente

 

Daqui zarpamos para o Friuli, mesmo sem as minhas malas que foram deliberadamente esquecidas pela Air Berlin no aeroporto de Düsseldorf. Mas tanto faz, para uma viagem espiritual como esta, nada material estava nos meus planos de felicidade!!!