Orange Wine Quest – I

Orange Wine Quest – I

31 de maio de 2014 0 Por GUILHERME CORRÊA

Parr revela muitos dos nossos segredos profissionais neste livro imperdível!

“Você pode aprender muito bebendo vinho, mas para conhecer realmente, é preciso ir à fonte”. Simples assim. Concordo tanto com o grande sommelier Rajat Parr, autor desta e de tantas outras verdades em seu livro Secrets of the Sommeliers, que faço do postulado acima combustível para me manter vivo e entusiasmado nas estradinhas vicinais das centenas de regiões vinícolas que conheci nestes 20 anos como profissional da indústria do vinho. Algumas viagens foram eminentemente técnicas, ainda que não menos valiosas para a minha formação, outras puramente epicuristas, a indulgência é uma marca registrada das recepções no mundo do vinho. Mas entre tantas carimbadas no meu passaporte, em março deste ano vivi aquela experiência que poderia receber o audacioso epíteto de “viagem dos sonhos”. Logicamente já bebi “old clarets” com toda a pompa & circunstância servidos por um fleumático aristocrata em seu château na margem esquerda, cobiçado por todos milionários do mundo. Mas aqui estou a falar de uma experiência verdadeira de ir ao encontro da essência do vinho, de conversar, beber, comer e sonhar com uma turma de vinhateiros que se desviou do “main-stream” e voltou no tempo, milênios na contramão, em busca do vinho elementar, concebido na terra, a imaculada expressão da terra.

Eu, tão magrinho, com Josko Gravner em 1997 em San Marino

Muito curiosamente, ou talvez não, foi na região do Friuli-Venezia-Giulia no extremo nordeste da Itália e na sua fronteiriça Eslovênia que uma turma de produtores revolucionários resolveu quebrar a linha de evolução do vinho, completamente. Impulsionados pelas ideias do vinhateiro mais sábio e humilde que já conheci na minha vida, Josko Gravner, trocaram uma carreira de sucesso sob os flashes dos guias de vinho mais blasonados do mundo e se enveredaram por um caminho brumoso, sem volta, de vinificar como os primeiros “enólogos” da humanidade o fizeram, na região do Cáucaso, área hoje da República da Geórgia. “Quem busca água pura deve ir à nascente, não à foz de um rio. Eu queria fazer um grande vinho verdadeiro, e por isto fui buscar inspiração na origem da vitivinicultura, há 5.000 anos atrás”, declara Gravner. O fato do canto nordeste da Itália e da sua extensão natural na Eslovênia terem se tornado o epicentro mundial destes vinhos singulares, hoje internacionalmente conhecidos como “orange wines”, é creditado à influência apostolar  de Josko e ao profundo respeito nutrido por este grande homem na região. Mas é bem verdade que o Friuli, que compreende as províncias de Pordenone e Udine, a Venezia Giulia das províncias mais a leste de Gorizia e Trieste, e o oeste da Eslovênia, sempre foram uma encruzilhada de civilizações, um ponto de conflito e encontro, do passado e do presente, cenário perfeito para a gênese destes vinhos atemporais!

Enlevado, junto às ânforas de Josko, amplificadores "Marshall" da voz da terra.

Enlevado, junto às ânforas de Josko, amplificadores “Marshall” da voz da terra.

Surpreendentemente, Josko Gravner não concorda com o termo criado pela imprensa internacional – orange wine -. “Laranja não significa vida no vinho, âmbar sim”. Para saber mais sobre os vinhos laranjas, como são conhecidos, clique aqui: Vinhos laranjas. De volta ao grande sommelier Rajat Parr, “qualquer verdadeiro entendimento do vinho jamais poderá ser alcançado em isolamento”. Simples assim parte II. Nestes 20 anos tive a imensa fortuna de ser ajudado por grandes profissionais, na hora certa. Uma destas pessoas, à qual tenho uma dívida eterna, é o sommelier e restaurateur italiano – friulano para ser mais acurado – Stefano Zannier. Ele me apresentou Gianfranco Soldera, Josko Gravner e outras lendas imortais do vinho italiano. Estarei nas próximas postagens deste blog contando sobre esta viagem à casa do Stefano, ao encontro dos vinhos laranjas, uma incrível “viagem dos sonhos”…

A versão em cristal do recipiente para prova do vinho no Cáucaso, uma abordagem humilde, sem haste, para com o vinho.

A versão em cristal do recipiente para prova do vinho no Cáucaso, uma abordagem humilde, sem a elevação da haste, para com o vinho.